“Sátira” contra as mulheres, de Semónides de Amorgos
SEMÓNIDES DE AMORGOS “Sátira” contra as mulheres TRADUÇÃO F. Rebelo Gonçalves No princípio, fez Deus de várias naturezas o carácter das mulheres. Uma mulher nasceu da porca de longas sedas. É aquela que tem uma casa onde só há lama e desordem; onde tudo se espalha no chão; onde ela própria engorda entre monturos, imunda de corpo e de vestuário. Outra mulher teve origem na raposa velhaca. Mestra na astúcia, nada ignora do bem ou do mal. E é capaz de louvar e criticar as mesmas coisas, assim se distinguindo por gênio versátil. Outra, ainda, foi gerada da cadela. E por isso lhe cabe – tal mãe, tal filha – a arte da ligeireza. Tudo quer ouvir e saber; a tudo lança olhares inquietos; anda sempre dum lado para outro; grita constantemente, até quando não vê ninguém. Nem o marido, com ameaças, logrará amansá-la, embora, irritado, lhe parta os dentes à pedrada. E tão pouco a amansará com branduras, embora esteja ao pé de estranhos. Jamais põe termo à vã gritaria. E que dizer...