Da Mundial da Poesia
«três poemas»
«Anton Webern está sentado no Terreiro do
Paço. Com cuidado, como quem se senta na
cadeira do dentista.Levanta-se e aproxima-
-se do arco que revela a Rua Augusta: duas
colunas sólidas "como as pernas de Eva nua,
fugindo de um pântano".
Eva nunca apanhou o comboio para o sul.
Mas esta noite, enquanto se dirigia ao frigo-
rífico com a velocidade do girassol, roçou a
anca esquerda na gaveta dos talheres que
caiu no chão: rápida tenda que o ruído mon-
tou na cozinha.Depois abriu a porta do fri-
gorífico que invadiu de pouca luz a parte
inferior da cena: garfos, facas, os pés des-
calços de Eva enquanto come melancia.
Hoje no Terreiro do Paço está reunido um
grupo de engenheiros. Alguma coisa incó-
moda aconteceu, estão de costas para o rio.
O chão está cheio de fósforos gastos.Ao cair
da tarde chega Minna Webern e o seu vestido
azul escuro. Os engenheiros disfarçam a
aflição. "Viva, que se passa?" "Absoluta-
mente nada, estamos contentes que tenhas
chegado."»
COSTA, Zé Luís, 20 Poemas a Anton Webern seguido de Aventuras
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