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A mostrar mensagens de abril 29, 2007

Metamorfose

Ao pé dos cardos sobre a areia fina que o vento a pouco e pouco amontoara contra o seu corpo (mal se distinguia tal como as plantas entre a areia arfando) um deus dormia. Há quanto tempo? Há quanto? E um deus ou deusa? Quantos sóis e chuvas, quantos luares nas águas ou nas nuvens, tisnado haviam essa pele tão lisa em que a penugem tinha areia esparsa? Negros cabelos se espalhavam onde nos braços recruzados se escondia o rosto. E os olhos? Abertos ou fechados? Verdes ou castanhos no breve espaço em que o seu bafo ardia? Mas respirava? Ou só uma luz difusa se demorava no seu dorso ondeante que de tão nu e antigo se vestia da confiada ausência em que dormia? Mas dormiria? As pernas estendidas, com um pé sobre outro pé e os calcanhares um pouco soerguidos na lembrança de asas; as nádegas suaves, as espáduas curvas e na tão leve sombra das axilas adivinhados pêlos... Deus ou deusa? Há quanto tempo ali dormia? Há quanto? Ou não dormia? Ou não estaria ali? Ao pé dos cardos, junto à solidão qu