O mito de Sísifo

Posso refutar tudo neste mundo que me rodeia, me fere ou me transporta, excepto este caos, este acaso rei e esta divina equivalência que nasce da anarquia. Não sei se este mundo tem um sentido que o ultrapassa. Mas sei que não conheço esse sentido e que me é impossível, neste momento, conhecê-lo. Que significa para mim significação fora da minha condição? Não posso compreender senão em termos humanos. O que toco, o que me resiste, eis o que compreendo. E estas duas certezas, a minha fome de absoluto e de unidade e a irredutibilidade deste mundo a um princípio racional e razoável, sei também que não as poderia conciliar. Que outra verdade poderia eu reconhecer sem mentir, sem fazer intervir uma esperança que não tenho e que nada significa nos limites da minha condição?

Albert Camus, O mito de Sísifo,
trad. de M. Vieira, Livros do Brasil.

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