Gaia Ciência

E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse na tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la mais uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência..." Como não atirar-te ao chão, rangendo os dentes e amaldiçoando o demónio que assim te falou? Ou já alguma vez experimentaste aquele formidável momento em que lhe terias respondido: "És um deus, e nunca ouvi algo mais divino"... Como te terias tornado tão bem disposto perante ti mesmo e a vida para chegar a não desejar alguma coisa mais ardentemente que este supremo desígnio e esta confirmação eterna?

F. Nietzsche, Gaia Ciência, IV, 341,
trad. de António Marques, Relógio
d'Água.

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